Por que o tempo passa, os governantes mudam e a realidade não muda em Fortaleza dos Nogueiras-MA?
Com razão estão aqueles que defendem que não são as respostas que fazem o mundo se mover, mas as perguntas. Não costumo defender dogmatismo, mas às vezes ele se faz necessário para explicar algumas situações fáticas que de tão corriqueiras não as percebemos. Vamos a elas.
A primeira delas diz respeito ao movimento das massas. Facilmente se constata que – sobretudo no atual estágio das nossas sociedades – o povo tende agir de forma coletiva, mesmo que inconscientemente. Durkheim, de certa forma, explicou esse fenômeno com grande propriedade. Seguindo nessa linha teremos cada vez mais pensamentos coletivos, sentimentos coletivos... revoltas coletivas. Claro que esse fato não deixa de ser louvável, mas por outro lado, em nome desse suposto pensamento coletivo estamos sacrificando a nossa capacidade de evoluir, visto que esta, a evolução, se dá pela contraposição dos fatos, do novo contra o velho. Diz-se que um novo paradigma traz consigo sempre o fim de um velho paradigma. Assim tem ocorrido desde o início dos tempos, desde o Éden, ou desde que o macaco se pôs sobre duas patas, deixando para trás aqueles que não conseguiram evoluir. O celebre físico Stephen Hawking, mundialmente conhecido, afirmou reiteradas vezes que a inteligência artificial representa na verdade o nosso fim. Não tenho dúvidas! Lembro ainda a afirmativa de um professor, ao acentuar que caso aquele macaco possuísse um celular (acesso à tecnologia do nosso tempo) nunca teríamos chegado até aqui, nunca teríamos descido das árvores, quem dirá ter andado sobre duas patas.
A segunda premissa traz como pressuposto a imutabilidade da realidade fática. Por inúmeros fatores, e somando-se vários outros a se considerar a realidade local das diversas regiões no nosso país. Desde muito tempo ouço que o sistema político está esgoto, que não representa mais ninguém... e blá, blá, blá. Não deixa de ser verdade, mas a não identidade entre o discurso e a prática desses críticos oportunistas retira toda a legitimidade que esse possui. Mais correto seria afirmar que o sistema político não representa por 3 (três) anos e alguns meses, durante o período eleitoral o sistema é aceito e explorado pelos críticos deste. E depois tudo volta a ser como antes, o sistema não representa, as pessoas se revoltam, mudam – de forma massiva – de posições intelectuais e ideológicas, para que dali a algum tempo os ânimos se acalmem novamente e tudo se repita, como num grande e interminável ciclo. Giuseppe Tomasi di Lampedusa concluiu isso em sua obra “O Leopardo”, afirmando que “algo deve mudar para que tudo continue como está”, e desta forma, conforme Raymundo Faoro, o aparelhamento político “impera, rege e governa, em nome próprio, num círculo impermeável de comando. Esta camada muda e se renova, mas não representa a nação, senão que, forçada pela lei do tempo, substitui moços por velhos, aptos por inaptos, num processo que cunha e nobilita os recém-vindos, imprimindo-lhes os seus valores”.
Chegamos num ponto crucial deste texto e refazendo a pergunta que o iniciou: por que a realidade não muda? Fazendo uma investigação histórica percebemos que ao longo dos anos muitos lutaram para alcançar o poder, como de fato alguns conseguiram; Alexandre, Napoleão e alguns outros conquistadores nos deixaram o legado de que é sim possível destituir governos e promover mudanças. Mais recentemente tivemos a primavera árabe, que apesar de não ter correspondido à euforia observada durante o seu desenrolar, trouxe consigo a queda de alguns governos historicamente estabelecidos. Portanto estabelecemos assim que a realidade pode ser mudada, não muda pelos fatores anteriormente exposto, tais como a ineficiência da sociedade em buscar essa mudança, e a falta de vontade dos governantes em proporcionar a sua efetivação.
Li recentemente em importante veículo de notícias da cidade de Fortaleza dos Nogueiras/MA, que a “oposição” se articula no sentido de lançar uma candidatura única. Ora, em primeiro lugar devemos auferir se esta “oposição” realmente existe, mas para fins teóricos suponhamos que exista. Causa estranheza o fato desta autodenominada “oposição” buscar um acordo para a disputa do Executivo municipal, tendo em vista o elevado índice de rejeição do atual gestor. A estranheza cai por terra se voltarmos à leitura das citações de Raymundo Faoro e Giuseppe Tomasi di Lampedusa, feitas anteriormente. Não se trata de oposição ou situação. Não se trata de democracia. Trata-se, sim, de um grande pacto firmado entre as “lideranças” políticas locais, para que prevaleçam os interesses desse pequeno grupo que detém o poder, tal como ocorreu na “política do café com leite”, onde os Estados de São Paulo e Minas Gerais indicavam sempre o candidato que deveria ser eleito, assegurando que em uma eleição presidencial seria eleito o candidato de um dos Estados e na eleição posterior o candidato do outro, mantendo assim o controle político da República. Para assegurar o resultado as “lideranças” da época se valiam tanto do clientelismo, patriarcalismo e coronelismo. O mesmo ocorre em Fortaleza dos Nogueiras, onde não há uma disputa democrática, mas um mero pacto de poder. Não se pode, jamais, falar em democracia enquanto as pessoas não forem capazes de escolher o representante de forma consciente, como também não se pode falar em democracia enquanto aqueles que disputam o poder forem sempre os mesmos. Democracia pressupõe escolha e escolha pressupõe pluralismo.

Por fim, falta-nos responder por que a população demonstra-se incapaz de se organizar em busca da efetiva representatividade e em contraposição ao modelo posto. A resposta já foi dada anteriormente por um professor: caso aquele macaco possuísse um celular (acesso à tecnologia do nosso tempo) nunca teríamos chegado até aqui, nunca teríamos descido das árvores, quem dirá ter andado sobre duas patas. Insisto nessa questão por entender que a mesma representa um divisor de águas, passamos por um momento decisivo onde o novo paradigma parece destruir o velho, onde os celulares e computadores substituíram os livros, onde as conversas produtivas e os debates sócio-políticos foram rapidamente substituídos por assuntos fúteis, banais e inapropriados. À medida que o tempo passa me pego cada vez mais distante do meu tempo e vivendo no passado, em uma época onde ainda se valorizavam as obras dos gigantes (lembrando a celebre frase de Isaac Newton) como o foi Maquiavel, Rousseau, Weber e tantos outros. Não troco os meus livros, que aumentam progressivamente, nem mesmo por uma centena de amigos virtuais. Pessoas virtuais não são reais, é muito fácil se esconder por detrás de uma tela, contar todas as vantagens e glórias, mas o que vale mesmo é a realidade. O que você é! Tenho optado pelo caminho menos percorrido, por aquele onde a travessia por vezes é mais difícil e solitária... Mas qual companhia melhor que a solidão? Enfim, tenho a certeza, e para lembrar Robert Frost, que em algum lugar, daqui a muito e muito tempo, direi que “dois caminhos se separavam em um bosque e eu... eu escolhi o menos percorrido, e isso fez toda a diferença”. Ainda sonho com um futuro onde as pessoas dedicarão menos importância às coisas fúteis e se dedicarão às imprescindíveis da vida, embora saiba que esse sonho é cada vez mais distante e improvável. 
Autor: Bonifácio Arruda 

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