O carnaval é todo dia
Dizem por aí que o ano só
inicia após o carnaval. Levando em consideração essa assertiva podemos chegar à
conclusão de que o ano nunca inicia.
O carnaval tem sua origem
na Grécia e posteriormente foi adotado pela igreja católica. Tratava-se de um
conjunto de festividades com objetivos religiosos. Não necessariamente
cristãos, mas religiosos. Antropólogos têm afirmado que o carnaval dava início
a um período de abstinência dos deleites e prazeres canais.
A origem do carnaval já
não importa. A forma como vem sendo festejado não mantém qualquer relação com
as suas raízes históricas.
O carnaval se incorporou
na cultura brasileira de forma tão intensa que passou a ser um elemento da
identidade nacional. No exterior o Brasil deixou de ser o país do futebol para
ser o país do carnaval. E as olimpíadas de 2016 prometem ser uma espécie de
carnaval mundial fora de época.
Importante lembrar que o
carnaval consome um grande número de receitas públicas. O Brasil passa por uma
das piores crises econômicas da sua história. O governo Federal realizou cortes
em quase todas as áreas da administração pública: saúde, educação, esporte,
infraestrutura... Carnaval. Não, carnaval não. O motivo é simples: cortar da
saúde, da educação, do esporte e da infraestrutura não gera tanto
descontentamento quanto cortar de uma festa popular que atrai milhões de
participantes. Aliás, o carnaval de 2016 promete ser um dos mais caros da
história. Ano eleitoral. Ambulâncias, professores bem remunerados e cidades
limpas, com asfalto e saneamento básico não produzem o mesmo efeito em termos
de satisfação popular quanto uma boa festa. E aqui cabe a observação de MC
Garden – um dos maiores pensadores contemporâneos – ao lembrar que: “o Brasil é
o país da festa e o que nos resta é estar no veneno” ou quando denuncia que:
“[...] jovens como antes não se fazem mais [...] aqui a bunda vale mais que a
mente, infelizmente isso é nosso Brasil!”, e conclui que “o problema tá no
Nordeste, em São Paulo e também tá no Rio”.
O problema, de fato, está
presente no Rio e em São Paulo, mas ele se agrava no Nordeste – especialmente
no Maranhão, um dos estados mais pobres da federação. Em nosso estado tornou-se
uma máxima jogar a culpa por todos os nossos problemas na família Sarney e no
José, gerando uma espécie de purificação da consciência pela passividade diante
das mazelas.
Se os jovens são o futuro
do nosso estado, lamento, mas nosso futuro está doente. Por diversos motivos:
a) nossos jovens, no geral, fazem um mau uso das redes sociais, onde a regra é
ser “engraçado” fazendo “piada”, em contraposição ao debate de ideias sérias e
a busca por participação politico-popular – que terão efeitos práticos sobre a
vida de todos – numa espécie de inconsciência sócio - virtual; b) aliado a essa
inconsciência sócio - virtual está o exacerbado consumo de bebidas alcoólicas e
o desenfreado número de festas que os jovens consomem/frequentam semanalmente,
o que nos leva ao terceiro problema; c) desinteresse pelo desenvolvimento
intelectual, a maioria dos jovens “engraçados e festeiros” pouco leem – quando
leem – as obras clássicas da literatura nacional e mundial.
Em outros estados como
Minas Gerais e São Paulo, dois dos estados mais ricos da federação, o
comportamento é inverso. Os jovens usam as redes sociais para questões
politico-intelectuais, buscam o desenvolvimento pessoal e, também fazem uso de
bebidas alcoólicas, além de frequentarem festas, mas em uma quantidade
infinitamente inferior. Que saudade tenho das minhas conversas com senhores de
idade mais avançada durante aquelas viagens que fazia por lá, quantos
aprendizados trouxe comigo e levo para a vida inteira. Aqui não tem nada disso,
as conversas têm outros rumos. Definitivamente não sou desse tempo (ou
estado), deveria ter nascido 60 anos atrás (ou a milhares de quilômetros daqui).
O problema não está no
carnaval exclusivamente, mas também na nossa juventude que faz de cada dia um
carnaval – dedicando várias horas dos seus dias para farrear e nenhum tempo
para uma boa leitura.
Muitos políticos com
índices de popularidade em baixa aproveitam o período do carnaval para
alavancar o prestigio (que já não tinham) perante a população descontente, mas
passiva, e por isso mesmo, manipulável. Gastar altas cifras, contratando bandas
mais conhecidas e doar cachaça ao público estão entre as práticas mais comuns.
O problema é que a população não só aceita, como exige, que alguns políticos
façam isso. Um prefeito foi duramente criticado pela população de sua cidade –
em grande medida pelos jovens – por ter cancelado o carnaval. “O dinheiro vem,
ele está roubando”, esbravejavam. Outro, que tem feito uma administração ruim,
investe massivamente em festas, para demonstrar à população que o prefeito “é
amigo de todos” (com objetivos unicamente eleitoreiros). E pasmem, pode ocorrer
de esse, apesar de realizar uma administração muito aquém do mínimo esperado –
promovendo inclusive perseguições a opositores – conseguir um resultado
expressivo nas eleições desse ano – senão a reeleição – e aquele, que faz uma
administração regular, tendo realizado diversas ações em prol da população, mas
que não tem o hábito de investir em festas, não se sair bem nas urnas.
A maioria dos políticos
não investe em melhores condições de atendimento na saúde e em uma educação de
qualidade porque não é isso que dá o retorno esperado. Alguns políticos
chegaram à conclusão que mais vale desviar o dinheiro dessas áreas – de importância
incalculável – para gastar com o que realmente vai lhes garantir popularidade.
Parece um tanto irracional – mas é o que acontece – as pessoas esquecem todos
os problemas por quais passa o município e se conformam com um único momento de
festividade. O que a maioria deveria fazer é o seguinte questionamento: “O que
estamos festejando?”. Esse ano, por ser
eleitoral, representa uma ótima oportunidade para mudar a realidade por qual
passam algumas cidades. Se tiver autoridade para lhes deixar algum conselho,
aconselho que não se rendam às artimanhas de que se valem alguns políticos. Não
votem no candidato bom de festa e ruim de administração, afinal, o voto é só o
primeiro passo para quatro anos de mudanças e avanços em áreas realmente
importantes, ou de retrocesso, descaso, festas e muita breja. Vocês escolhem.
Se os Gregos criaram o
carnaval – a política e tantas coisas mais –, cabe um grande aprendizado que
eles nos legaram: “o problema das coisas não está nelas propriamente, mas no
uso que fazemos delas”.
E para concluir esse
texto – ciente de que muitos jovens não vão ler até aqui por ser um pouco
extenso – deixo as palavras de Fernando Henrique Cardoso, um sociólogo de
renome internacional: “você é o centro do mundo, cabe a você escolher entre o
que vai te fazer crescer e o que vai te atrasar”. Traduzindo: “você é mestre do
seu destino e capitão da sua alma” (MANDELA, Nelson).
TEXTO: Bonifácio Arruda - Projeto Cidadania Já! Chega de Blá blá blá
FORTALEZA DOS NOGUEIRAS - MARANHÃO
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